As 5 lições que ficam para o mercado após a divulgação de uma nova pesquisa eleitoral

Mais do que a importante resiliência de Jair Bolsonaro na liderança do pleito, há outras variáveis que não podem passar despercebidas nesta etapa do processo eleitoral

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Na mais recente pesquisa eleitoral divulgada, desta vez pelo site Poder360 no último sábado (21), o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) manteve a liderança da corrida presidencial em levantamento que desconsidera a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na pesquisa feita entre os dias 16 e 19 de abril, o deputado contou com apoio de uma faixa de 20% a 22% dos eleitores, dependendo do cenário avaliado.

Contudo, foi o desempenho do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa (PSB) um dos grandes destaques mais uma vez. Sem fazer campanha efetiva, o ex-magistrado mostra que larga na disputa com um expressivo recall, superando figuras conhecidas por boa parte dos eleitores, como Ciro Gomes (PDT) — que caminha entre 8% e 9% –, Marina Silva (REDE) — entre 8% e 10%, dependendo do cenário testado — ou Geraldo Alckmin (PSDB) — entre 6% e 8% –. De acordo com o levantamento, Barbosa tem entre 13% e 16% das intenções de voto. A soma de brancos, nulos, indecisos e o percentual de eleitores que não quiseram responder é de 25%. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais.

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A pesquisa não testou a candidatura do ex-presidente Lula. Preso desde 7 de abril após condenado a 12 anos e 1 mês pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele dificilmente terá condições de participar de disputa, em função das determinações da Lei da Ficha Limpa, embora ainda haja recursos disponíveis à defesa em instâncias superiores. Como os candidatos presidenciais ainda não estão definidos, a Lei Eleitoral permite que as pesquisas façam qualquer combinação de nomes.

No caso deste estudo, foram testados dois cenários de primeiro turno: no primeiro, optou-se por considerar apenas os políticos cuja exposição indicasse taxas acima de 5% e também um nome do PT — considerando-se que a tendência é que a legenda lance um nome para substituir Lula. No segundo cenário, foram incluídos 12 nomes de possíveis candidatos. Também foram testados dois cenários de segundo turno. No primeiro, Bolsonaro derrotaria Alckmin por 41% a 18%, com 38% eleitores declarando voto branco ou nulo e 3% de indecisos. No segundo, Barbosa derrotaria Bolsonaro por 37% a 32%, com 27% de brancos e nulos e 4% de indecisos.

Eis algumas possíveis avaliações do resultado de mais esta pesquisa eleitoral:

1. Desejo da renovação

Esta tem sido uma constante das pesquisas divulgadas na imprensa. A insatisfação com os nomes apresentados provoca uma explosão no percentual de brancos, nulos e indecisos. Da mesma forma, entre os candidatos, os nomes que conseguem atrair para si a imagem de renovação ganham maior espaço. Somando os considerados anti-establishment Jair Bolsonaro, Joaquim Barbosa e Marina Silva, o resultado é uma marca de até 48% das intenções de voto. Já os nomes mais associados à política tradicional apresentam desempenho modesto nesta linha de comparação. Somados, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias chegam à faixa dos 23%.

2. O peso das estruturas

Por outro lado, há variáveis cujos efeitos as pesquisas quantitativas, neste momento, não são capazes de captar. Antes do pontapé inicial das campanhas, o peso das estruturas partidárias, tempo de televisão, capilaridade e recursos financeiros é invisível. Em contrapartida, os partidos que contam vantagem nestes quesitos nesta etapa da disputa apenas sofrem com o ônus da crescente desconfiança do eleitor, sem colher os frutos de suas principais armas. É o que ocorre também com a figura do presidente Michel Temer. Por mais que não apresente viabilidade eleitoral para lançar candidatura própria, o controle da máquina pública mostra-se ativo importante no processo, sobretudo em uma disputa em que doações empresariais para campanhas são proibidas (portanto, os recursos são bem menos abundantes). Da mesma forma, nomes vistos como anti-establishment e que normalmente encontram-se alijados das grandes estruturas partidárias hoje só contam com o bônus de não terem grandes custos reputacionais, mas futuramente sentirão os efeitos da falta de estrutura para fazer campanha.

3. Poucas novidades até agosto

A despeito do nervosismo que o mercado apresenta em alguns momentos com as candidaturas que hoje apresentam maior viabilidade eleitoral, o quadro deve sofrer poucas alterações até o início do período de campanhas. Se, por um lado, um dos grandes ativos do establishment não apresenta seus efeitos sobre o processo, por outro, a grande maioria dos eleitores ainda não está pensando muito nas eleições. Embora faltem menos de seis meses para o primeiro turno, em termos políticos o processo ainda está distante. Candidaturas precisam ser consolidadas no tabuleiro e alianças, feitas. O cenário tende a ganhar maior movimentação — salvo acontecimentos extraordinários — apenas a partir de 15 de agosto, quando termina o prazo para registro das candidaturas pelos partidos e a corrida começa. Neste ano, o tempo para campanha é mais curto, o que pode limitar o poder das estruturas, mesmo assim nada indica que elas perderão relevância no processo. As eleições devem continuar sendo uma maratona política, uma prova de resiliência, não uma corrida de tiro curto.

4. Joaquim Barbosa: o fato novo

O ex-ministro do STF apresenta-se como o grande “fato novo”, que ingressou ao jogo eleitoral nos instantes finais da janela partidária, filiando-se ao PSB. Sua candidatura ainda enfrenta muitas dificuldades pessoais e dentro do próprio partido, mas o potencial eleitoral não pode ser ignorado nesta etapa. Mesmo sem ser presença garantida na disputa de outubro e sem fazer qualquer movimentação de campanha, Barbosa já ocupa a segunda posição na pesquisa. Só a exposição na imprensa nos últimos dias já pode ter ajudado em seu desempenho neste levantamento feito pelo DataPoder360. Por outro lado, a rápida conquista de espaços no tabuleiro eleitoral pode fazer com que os canhões dos adversários já comecem a apontar para sua possível candidatura. O objetivo é evitar que ele consiga tornar-se viável dentro do partido até agosto. Conquistar apoio de governadores do PSB é o desafio urgente de Barbosa neste momento. Evidentemente, um bom desempenho nas pesquisas pode ajudar neste movimento complexo.

5. Dificuldades a PT e PSDB

A nova pesquisa também evidenciou a velha dificuldade de Geraldo Alckmin em ganhar competitividade nesta etapa da disputa. À medida que o tempo passa, cresce a pressão sobre o tucano, embora acredite-se que ele só deverá crescer nos levantamentos durante o período de campanha, quando deverá contar com sólida estrutura. Porém, nos últimos dias, o ex-governador de São Paulo ganhou novas dores de cabeça. Na última sexta-feira, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar se o tucano cometeu improbidade administrativa em um caso de suspeita de caixa dois envolvendo mais de R$ 10 milhões. Antes, aliados de Alckmin haviam comemorado o fato de o processo ter sido encaminhado à Justiça Eleitoral, e não à Lava Jato em São Paulo. Além disso, a decisão do STF de tornar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) réu eleva os desafios internos para Alckmin, que de imediato disse que o ideal seria que o parlamentar não concorresse nestas eleições. A participação de Aécio na disputa pode fazer com que Antônio Anastasia (PSDB-MG), pré-candidato do partido ao governo de Minas, volte atrás e desista do pleito.

Do lado petista, o levantamento mostrou um ambiente de grandes dificuldades ao partido com a cada vez mais provável ausência de Lula do processo eleitoral como candidato. Embora os números ainda não consigam calibrar o peso da capacidade de transferência de votos do ex-presidente, eles reforçam um ambiente desafiador. Com as manifestações anti-establishment elevadas e o baixo nível de conhecimento de Fernando Haddad — hoje a opção mais forte dentro do partido — entre os eleitores, as condições em que Lula poderá participar de uma campanha mostram-se vitais ao partido. Preso, o petista deve ter dificuldades nesta difícil missão. Além disso, o desempenho de figuras como Ciro Gomes sinaliza para a possibilidade de a esquerda seguir fragmentada em candidaturas até o primeiro turno, o que pode limitar o potencial de crescimento de um nome do PT.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.