Bolsonaro não deve ser o Donald Trump do Brasil, diz Eurasia – e por dois grandes motivos

Mesmo com todas as indicações de que a candidatura de Bolsonaro está ganhando expressivo destaque, consultoria de risco político não acredita que o deputado alcance o mesmo patamar do atual presidente americano

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Apesar de despontar nas últimas pesquisas eleitorais e ser destacado pelo Financial Times como o provável sucessor de Michel Temer, a consultoria de risco político Eurasia Group acredita ser improvável que o deputado federal Jair Bolsonaro seja o “Donald Trump do Brasil”. 

Para a consultoria, os números expressivos de Bolsonaro na corrida presidencial apresentados na véspera pela CNT/MDA são um reflexo do crescente descontentamento da população com a classe política e, como resultado, sugere que o seu apelo eleitoral está aumentando. 

Porém, para os analistas políticos, a questão sobre se Bolsonaro será o principal representante desse descontentamento ainda está aberta. Eles não acreditam nisso, por dois motivos. Primeiro, para os analistas, Bolsonaro não possui a estrutura de um grande partido e provavelmente será incapaz de forjar alianças significativas que lhe proporcionariam mais recursos. “Em um país de proporções continentais, com legislação eleitoral que tende a dar aos maiores partidos estabelecidos acesso aos fundos de campanha e maior tempo de televisão, esta é uma desvantagem importante”, aponta a Eurasia.

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Além disso, mais importante ainda, grande parte do desempenho de Bolsonaro ainda dependerá da gama de candidatos disponíveis. Para a Eurasia, enquanto os dados de pesquisa confirmam que há demanda no eleitorado para a mudança, como essa demanda se traduzirá em votos, em última análise, dependerá do perfil dos candidatos confirmados. A avaliação é que a recente ascensão de Bolsonaro sugere que ele se beneficia não apenas do voto de protesto, mas também da falta de outras candidaturas críveis. Porém, a consultoria aponta que isso mudará.

“Como outros candidatos com um apelo antiestablishment provavelmente surgirão nos próximos meses, a vantagem potencial para Bolsonaro tenderá a ser limitada. Não só o prefeito de São Paulo, João Doria, deveria captar parte desse descontentamento, se ele for candidato a presidente (o que é provável), mas outros candidatos como o ex-juiz Joaquim Barbosa ou mesmo o apresentador de televisão Luciano Huck poderiam surgir. Além disso, enquanto seu discurso radical o ajuda a superar o descontentamento, ele também aumenta suas taxas de rejeição entre os eleitores mais moderados, o que restringirá seu desempenho em simulações de primeira e segundo turno mais para frente”, aponta.

Contudo, para a consultoria, isso não quer dizer que o desempenho de Bolsonaro deva passar despercebido. “As eleições do ano passado nos EUA servem de lembrete de que uma paisagem com inúmeros candidatos pouco atraentes pode abrir caminho para resultados surpreendentes”, aponta a Eurasia.

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Neste cenário, a Eurasia aponta que terá atenção dobrada para outras candidaturas antiestablishment que provavelmente surgirão. Alternativamente, suas probabilidades aumentariam em um cenário improvável em que ele é o único candidato antiestablishment. “Mais importante ainda, a ascensão de Bolsonaro é um indicador claro de que ele está instigando um profundo descontentamento no eleitorado, o que dificilmente irá se dissipar, mesmo que a economia se recupere no próximo ano”, conclui a consultoria. 

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.