Não era para subir? Os três fatores que explicam a queda de 2,5% do dólar em três dias

Programa de repatriação dos EUA e tensões políticas apontaram para potencial de alta do dólar neste início de ano, mas a moeda só caiu até agora

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na última semana de 2017, os investidores entraram em estado de alerta com uma notícia de que o dólar poderia disparar este ano por conta do programa de repatriação de recursos do governo Donald Trump. Além disso, os temores com corte de rating do Brasil e reforma da Previdência também seriam fatores para sustentar o dólar mais alto.

Mas o que temos visto desde então é um cenário completamente oposto a esse. Após fechar o ano em R$ 3,3144, o dólar comercial já caiu cerca de 2,5% em apenas três pregões e nesta quinta-feira (4) era negociado abaixo dos R$ 3,23. Mas afinal, então porque a moeda norte-americana está caindo?

Segundo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, basicamente três fatores explicam a rápida recuperação do real ante a moeda norte-americana. O principal deles foi o fato do dólar ter caído forte no mercado externo na semana passada, principalmente contra moedas de países exportadores, como Nova Zelândia, Austrália e Canadá. Além disso, os metais e petróleo puxaram fortemente o índice de commodities, o que também pressiona a divisa dos EUA.

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Tudo isso, enquanto as expectativas com relação a política melhoraram e os juros futuros de longo prazo caíram forte, o que, segundo Faria, não só ajuda na queda do dólar, mas também favorece o avanço da bolsa, que tem quebrado seguidas vezes a máxima histórica. “Desta forma, temos os dois ‘motores’ (externo e interno) favoráveis para o movimento de apreciação do real”, explica.

Com a queda recente, o dólar perdeu o patamar dos R$ 3,25 na última terça-feira (3) e agora está prestes a reverter sua tendência, que passa a ser de baixa no médio prazo, segundo Faria. “Se a confirmação da reversão de tendência ocorrer, teremos oportunidade de comprar dólares mais barato. Assim, ainda devemos ter um pouco mais de paciência para comprar”, afirma.

Além disso, o economista apresentou dois gráficos que mostram que o dólar tem espaço para cair ainda mais ante o real:

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1 – Queda do CDS
Neste caso, o gráfico mostra que o dólar tem uma tendência histórica de seguir o movimento do CDS de 5 anos. Porém, desde setembro do ano passado, a diferença entre os dois dados aumentou e no último mês de 2017 o dólar voltou a recuar, diminuindo a diferença, mas que ainda há espaço para as duas linhas se aproximarem mais.

2 – Comparação com outras moedas
Neste caso, o histórico mostra que as três moedas oscilam entre si, sendo que as variações mudam, apesar de seguirem uma trajetória parecida. Atualmente, porém, o real se descolou um pouco e não tem seguido a mesma trajetória de alta contra o dólar vista pelas outras duas moedas desde o fim do ano passado.

Riscos ainda existem
Apesar desta tendência, ainda existem fatores de grande risco para o dólar. Os dois principais seguem sendo a reforma da Previdência, que caso não seja aprovada deverá levar a um corte de rating do Brasil, piorando o cenário tanto para a bolsa quanto para o dólar.

Para o diretor executivo da NGO Associados, Sidnei Moura Nehme, o mercado tem “menosprezado” os riscos, incluindo com “certa insensibilidade quanto a ocorrência de tensões no campo eleitoral bastante desestabilizadoras e radicalizações, visto ser ano eleitoral”. Segundo ele, turbulências na política e a crise fiscal “podem ser extremamente perturbadoras em 2018, um ano com muitas incertezas”.

O outro evento que é preciso ficar atento é a repatriação de até US$ 400 bilhões que as companhias americanas têm fora dos Estados Unidos. A tendência é que este evento ajude o dólar a subir no mundo todo, mas ainda não há uma análise exata dos impactos disso na economia.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.