BC e Tesouro contra Yellen e Trump: a “guerra” que irá definir o futuro do dólar

Enquanto os fatores externos estão puxando o dólar para cima, atuação das autoridades brasileiras consegue segurar o preço da moeda

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O dólar se sustenta em queda nesta quinta-feira (17) apesar de diversos fatores levarem a moeda norte-americana para fortes ganhos no mundo todo. Mesmo assim, a divisa se mantém no patamar de R$ 3,40, em um cenário ligeiramente mais tranquilo do que o visto na última semana quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. Apesar da tendência de curto e médio prazo ainda ser de alta, o Banco Central consegue evitar, por enquanto, que a moeda acione o gatilho de reversão na tendência de longo prazo.

Segundo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, enquanto o dólar não superar a marca de R$ 3,50, a tendência de longo prazo segue de queda. Segundo ele, neste momento as vendas podem ser interessantes, enquanto compras abaixo de R$ 3,40 também pode ser uma boa opção. Neste momento, existem quatro fatores pesando, dois para cada lado da balança: enquanto a eleição de Trump e a expectativa de alta de juros do Fed puxam o dólar para cima, as atuações do BC e do Tesouro seguram o preço do moeda.

Mais cedo nesta quinta, a chair do Federal Reserve, Janet Yellen, e fortes indicadores econômicos nos EUA reforçaram as apostas de que os juros vão subir em breve na maior economia do mundo. Em discurso preparado, Yellen disse que o Fed pode elevar a taxa de juros “relativamente em breve” se os dados econômicos continuarem indicando melhora do mercado de trabalho e inflação em alta, em uma clara indicação de que o Fed pode agir no próximo mês.

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Além disso, as apostas de alta de juros nos EUA foram reforçadas com a divulgação de que a inflação no país foi a maior em seis meses em outubro e que o início de construções de novas moradias saltou 25,5% no mês passado. Enquanto isso, os pedidos de auxílio-desemprego recuaram 19 mil na semana encerrada no dia 12, para o patamar sazonalmente ajustado de 235 mil, no nível mais baixo desde novembro de 1973.

Entre os dias 9 e 14 deste mês, o dólar saltou quase 9% sobre o real com forte onda de aversão ao risco após a eleição de Trump. Investidores acreditam que a sua política econômica pode ser inflacionária, o que pressionaria o Fed a elevar ainda mais os juros, aumentando a possibilidade de atrair recursos aplicados hoje em outros mercados, como o brasileiro.

Porém, todo este cenário não é suficiente para levar o dólar a subir contra o real nesta quinta. Após a forte disparada na última semana após a vitória de Trump, a moeda caminha hoje para a segunda queda seguida, ficando próxima do patamar de R$ 3,40. Tudo isso graças às atuações do Banco Central no mercado.

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Pela manhã, o dólar chegou a marcar mais de 1% de queda frente ao real influenciado pelos leilões de swap tradicional, equivalente à venda futura de dólares. O BC vendeu nesta manhã todos os 10 mil novos contratos de swap tradicional e também todos os 20 mil para rolagem dos swaps que vencem em 1º de dezembro. 

“O BC entrou pesado ontem e avisou que repetiria o movimento hoje”, comentou o operador da Ouro Minas Corretora, Maurício Gaioti. “Mas o mercado está respeitando o nível de R$ 3,40 e, quando vai abaixo, atrai compradores”, completou ao justificar o movimento acima das mínimas ao longo da manhã.

Para completar, a atuação do Tesouro Nacional, junto com o BC, também ajuda a trazer um clima de calma no mercado. Na segunda-feira, o Tesouro anunciou a realização de um programa de leilões diários de compra de Notas do Tesouro Nacional (NTN-F) até esta sexta-feira. Além disso, o Tesouro cancelou os leilões de venda de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e NTN-F previstos para hoje. Segundo operadores, isso aumenta a liquidez do mercado e ajuda a evitar mais estresse.

Com Reuters

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.