Ibovespa cai 1% com Draghi, Deutsche Bank e Petrobras na contramão do petróleo

Com reunião da Opep e debate dos candidatos à presidência dos EUA no radar, investidores sinalizam sessão de correção

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira (26), pressionado pelo cenário externo em uma sessão de maior aversão a riscos no mercado internacional. O benchmark da Bolsa brasileira recuou 1,10%, a 58.054 pontos, com 49 das suas 58 ações em queda. O volume financeiro negociado na Bovespa foi de R$ 4,474 bilhões. Enquanto isso, o dólar comercial fechou praticamente estável, mostrando leve variação positiva de 0,01%, cotado a R$ 3,2469 na compra e a R$ 3,2474 na venda. O contrato futuro do dólar para outubro mostra estabilidade em R$ 3,250 no after-market. 

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2018 opera estável em 12,23%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 avançou 1 ponto-base a 11,73%. Os juros esperam pela divulgação amanhã do Relatório Trimestral de Inflação, que pode definir se o Banco Central irá confirmar as expectativas do mercado e cortar os juros em outubro ou se ele esperará um pouco mais antes de iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. 

Ainda no radar dos investidores, estão a reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) desta semana, que deverá trazer volatilidade aos preços do petróleo, e o imperdível debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos nesta noite.

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Já na Europa, destaque para a fala do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, em Bruxelas. Draghi disse que taxas de juros baixos no longo prazo têm efeitos colaterais, o que derrubou as ações na Europa, por mostrar que a liquidez internacional que tem alavancado os preços dos ativos deve acabar. Apesar disso, ele ponderou que se a autoridade monetária não tivesse uma política monetária expansionista, as consequências seriam uma severa deflação e um alto desemprego na zona do euro. 

Ainda no velho continente, a sessão foi de forte queda, com destaque negativo novamente para as ações do Deutsche Bank, que tiveram baixa superior a 7% após a revista alemã Focussaid afirmar que relatórios do governo do país tinham excluído qualquer auxílio estatal para o banco. O Deutsche negou que seu CEO, John Cryan, teria pedido à chanceler Angela Merkel ajuda para o banco. 

 Já no mercado de commodities, o petróleo brent foi negociado em forte alta, após despencar 4% na sexta; a Arábia Saudita abriu a porta para acordo futuro, apesar de não esperar entendimento em encontro na Argélia quarta-feira. O ministro de petróleo do Irã, Bijan Zanganeh, disse que o encontro de grandes produtores da commodity, marcado para a próxima quarta-feira não deverá levar a uma decisão sobre os níveis de produção.

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Do lado dos mercados emergentes, destaque para a perda do grau de investimentos da Turquia pela agência de classificação de risco Moody’s, notícia que tende a trazer uma modificação nos fluxos de recursos globais.

Lava Jato
No noticiário doméstico, a semana já teve início com a Operação Lava Jato deflagrando a sua 35ª fase, a Ormetà. Entre os principais alvos está o ex-ministro Antonio Palocci, que foi preso em São Paulo. As suspeitas sobre Palocci surgiram na delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Costa afirmou que, em 2010, Alberto Youssef, que está preso na PF em Curitiba, lhe pediu R$ 2 milhões da cota de propinas do PP para a campanha presidencial da ex-presidente Dilma Rousseff. O pedido teria sido feito por encomenda de Palocci.

“Há indícios de que o ex-ministro atuou de forma direta a propiciar vantagens econômicas ao grupo empresarial nas mais diversas áreas de contratação com o Poder Público, tendo sido ele próprio e personagens de seu grupo político beneficiados com vultosos valores ilícitos”, afirmou a Polícia Federal.

Relatório Focus
Já do lado dos indicadores econômicos, destaque para o Relatório Focus, que mostrou que as projeções dos cinco economistas que mais acertam para a inflação medida pelo IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) no final deste ano foi reduzida de 7,34% para 7,22%. A mediana das expectativas desses especialistas para Selic e câmbio foram mantidas para o mesmo período, respectivamente em 13,75% ao ano e R$ 3,30. Esses economistas não esperam mudança na taxa básica de juros — atualmente fixada em 14,25% ao ano — na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de outubro.

Considerando todos os economistas consultados pelo Banco Central, a mediana das projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano apresentaram leve melhora do último relatório para cá, ao variar de queda de 3,15% para recuo de 3,14% em 2016. Para a inflação no mesmo período, as expectativas variaram de 7,34% para 7,25% neste ano, enquanto a Selic se manteve a 14,19% ao ano.

Dívida externa
Ainda na agenda econômica doméstica, destaque para a dívida pública externa, que somou R$ 124,4 bilhões em julho, e a interna, que atingiu R$ 2,832 trilhões no mesmo mês. A fatia de estrangeiros na dívida interna reduziu de 16,41% em junho para 16,23% em julho.

Balança Comercial 
A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 690 milhões na quarta semana de setembro, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira, 26, pelo MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços). Entre os dias 19 e 25 deste mês, as exportações somaram US$ 3,710 bilhões; e as importações, US$ 3,020 bilhões.

No acumulado do mês, até o dia 25, as exportações somam US$ 12,503 bilhões e as importações, US$ 9,475 bilhões, com saldo positivo de US$ 3,055 bilhão. No ano, o superávit é de US$ 35,427 bilhões, com embarques de US$ 136,101 bilhões e compras do exterior de US$ 100,674 bilhões.

Destaques da Bolsa
Nesta sessão de maior aversão a riscos, apenas nove das 58 ações listadas na carteira teórica do índice deixaram de cair. O destaque de alta ficou com os papéis da companhia de planos de saúde coletivos Qualicorp (QUAL3, R$ 18,91, +1,01%). 

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 EMBR3 EMBRAER ON 14,63 -3,43 -51,35
 JBSS3 JBS ON 11,85 -3,11 +0,46
 FIBR3 FIBRIA ON 21,80 -2,81 -57,24
 EQTL3 EQUATORIAL ON 51,00 -2,49 +51,39
 GOAU4 GERDAU MET PN 3,54 -2,48 +113,25

Por outro lado, entre as quedas, vale ressaltar o desempenho de mineradoras e siderúrgicas. As ações de Vale (VALE3, R$ 17,44, -1,19%; VALE5, R$ 15,18, -0,98%), Bradespar (BRAP4, R$ 9,79, -1,51%) e siderúrgicas Gerdau (GGBR4, R$ 8,68, -0,12%), Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 3,54, -2,48%), Usiminas (USIM5, R$ 3,53, -1,12%) e CSN (CSNA3, R$ 8,67, -0,46%) caíram em dia de aversão ao risco nos mercados globais. 

No radar das siderúrgicas, a CSN está próxima de vender a mineradora Casa de Pedra a um grupo chinês, segundo informações da coluna Radar, da Veja. O desfecho da transação deve ocorrer nas próximas semanas. O BTG Pactual lembra que a companhia tem falado há algum tempo na venda de ativos – inclusive “core assets”. “A CSN está com fluxo de caixa livre negativo, alavancada em 8 vezes e precisa começar a destravar venda de ativos rapidamente. Seguimos aguardando os próximos passos”, comentaram os analistas. Eles ressaltaram que a situação da siderúrgica é crítica e mantém recomendação de venda.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 KROT3 KROTON ON 15,03 +1,14 +59,52
 QUAL3 QUALICORP ON 18,91 +1,02 +41,38
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 17,01 +0,65 -26,48
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 62,05 +0,27 +64,67
 CPLE6 COPEL PNB 34,81 +0,26 +49,57

Também recuaram os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 14,70, -1,80%; PETR4, R$ 13,40, -2,12%), que caem apesar da alta dos preços do petróleo nesta sessão e elevação de preço-alvo pelo Credit Suisse. Lá fora, o contrato futuro do petróleo Brent registrou alta de 2,24%, a US$ 47,52 o barril, enquanto o WTI (West Texas Intermediate) avançou 2,45%, a US$ 45,57 o barril.

No radar, o Credit Suisse analisou o plano estratégico da Petrobras publicado na semana passada e aumentou o preço-alvo da Petrobras de US$ 8,60 para US$ 11 por ADR (American Depositary Receipt), o que representa um potencial de valorização de 20%, mas mantendo recomendação neutra por causa dos riscos de execução.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 13,40 -2,12 477,49M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,85 -0,78 283,04M
 QUAL3 QUALICORP ON 18,91 +1,02 186,20M
 VALE5 VALE PNA 15,18 -0,98 162,36M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,62 -0,56 150,87M
 BBDC4 BRADESCO PN 29,36 -1,24 134,18M
 KROT3 KROTON ON 15,03 +1,14 132,92M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 30,54 -2,02 109,48M
 PETR3 PETROBRAS ON 14,70 -1,80 96,50M
 ITSA4 ITAUSA PN 8,41 -1,18 94,85M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Confira os destaques da semana:

Agenda econômica
Depois do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) da última quinta-feira (22) fazer a curva de juros precificar um corte da Selic no Brasil no mês que vem, o mercado vai ter atenção redobrada para o Relatório Trimestral de Inflação. De acordo com o economista da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini, as projeções do Banco Central contidas no relatório serão a parte mais importante a observar. “Se vier abaixo de 5% a inflação para o ano que vem, o BC vai cortar juros em outubro. Parece que a inflação fechada de setembro já vai ser boa”, afirma. O relatório será divulgado às 8h30 (horário de Brasília) da terça-feira (27).

Outro evento importante da semana será o anúncio do resultado consolidado das contas públicas em agosto, que será determinante para acompanhar se o governo vai conseguir cumprir a meta de 2016, de déficit primário de R$ 170,5 bilhões. Caso a União ultrapasse esse limite, enviará um péssimo sinal para o mercado, podendo até incorrer em novos rebaixamentos do rating soberano do Brasil pelas principais agências avaliadoras de risco internacionais. O dado sai na sexta-feira (30) às 10h30. 

Considerada a principal medida do ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241/2016 do teto dos gastos pode ser aprovada em comissão nesta semana. Mas o caminho para ela começar a vigorar ainda é longo: são duas votações no plenário na Câmara dos Deputados, uma análise mais votação em comissão especial no Senado e duas votações em plenário no Senado. Até lá, muitas emendas podem ser feitas na PEC, de modo que economistas como Evandro Buccini veem como essencial que se atente para qual será o texto final da proposta se ela for efetivamente aprovada. 

Já nesta segunda, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, faz palestra na FEA- USP, São Paulo, às 8:45. À tarde, participa de encontro com Paulo Skaf, presidente da Fiesp, para apresentar o Plano de Negócios e Gestão da Petrobras 2017-2021, São Paulo, às 14:00. 

Dados dos EUA
A terceira e última estimativa da variação do PIB dos EUA no segundo trimestre será anunciada ao mercado às 9h30 da quinta-feira (28). A economia norte-americana cresceu 1,1% no primeiro trimestre deste ano, e avançou 1,2% no segundo trimestre de acordo com a prévia anterior.

Já o indicador de inflação mais acompanhado pelo Fed, o núcleo do PCE relativo a agosto será divulgado na próxima sexta-feira (30) às 9h30. Em julho, o PCE mostrou um leve avanço de 0,1% na inflação dos EUA.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.